Para além da colecção do MMNAC-MChiado, a mostra conta com obras provenientes de outros museus, como a Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Arpad Szénes/ Vieira da silva, Fundação Berardo, Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso e de várias colecções privadas, bem como de depósitos recentemente realizados nesta instituição. Constitui, por isso, umm momento priviligiado para uma observação e leitura deste período, que transformou o curso de arte portuguesa. A exposição, que ocupa a totalidade do museu, divide-se em 6 núcleos: Primeiros Modernismos, Almada e as GAres Marítimas, Abstraccionismo Geométrico, Neo-realismo, Surrealismo, Figuração e abstracção. Cada um destes núcleos é acompanhado por um texto de sala que faz uma contextualização histórica das obras e dos movimentos apresentados. Outro aspecto de especial relevância desta exposição reside na ênfase que é dada á chamada terceira geração modernista, que se revela em meados da década de 40. A extensão e diversidade das obras dos seus protogonistas permite compreender como estes artistas trouxeram para o contexto nacional uma profunda vontade de relizar uma modernidade até aí incipiente e episódica. Também a sua divisão em movimentos como Abstraccionismo Geométrico, o Neop-realismo ou o Surrealismo foi demonstrativa da maior complexidade e do aprofundamento do fenómeno moderno possibilitado por esta geração.
Maria Helena Vieira da Silva, até á sua consagração mundial na década de 50; da emergência dos Surrealistas, abstratos e Neo-realistas, passando pelos confrontos entre a figuração e abstracção, até ás primeiras obras de Joaquim Rodrigo e Paula Rego, que anunciam um novo tempo, é assim possível observar a dinâmica dos pioneiros da modernidade. Pela primeira vez é adicionada a fotografia, que foi realizada paralela e sumltaneamente a estes movimentos. Por vezes esquecida, outras relegada para um domínio lateral, a prática fotográfica dos seus pioneiros modernos interpela e complementa aqueles movimentos artísticos.Artistas:
Abel manta, Adelino Lyon de Castro, Alexandre O´Neil, Almada Negreiros, Amadeo de Souza-Cardoso, António Pedro, António Soares, Canto da Maia, Carlos Botelho, Cruzeiro Seixas, Dominguez Alvarez , Dórdio Gomes, Eduardo Viana, Eduardo Harrington Sena, Fernando de Azevedo, Fernando Lanhas, Fernando Lemos, Francisco Franco, Gérard Castello-Lopes, Hein Semke, Henrique Risques Pereira, João Hogan, Joaquim Rodrigo, Jorge de Oliveira, Jorge Vieira, Júlio Pomar, Júlio Reis Pereira, Júlio Resende, Manuel Filipe, MArcelino Vespeira, Mário Cesariny, Mário Eloy, Mário Henrique Leiria, Nadir Afonso, Nikias Skapinakis, Paula Rego, Querubim Lapa, Rogério Ribeiro, Sá Nogueira, Santa-Rita Pintor, Varela Pécurto, Victor PAlla, Vieira da Silva.
Introdução:
Esta exposição traça um percursp pelas práticas artísticas da primeira medade do século XX, em Portugal, e apresenta a sua lenta e complexa modernização num contexto cultutal e politicamente adverso. Quando as distâncias entre os países europeus iniciaram o seu processo de colapso e a circulação da informação se constituiu como parte triunfante do novo mundo, a arte moderna portuguesa desenvolveu-se por episódios singulares e amplas descontinuidades. A reacção a este contexto foi a emigração de alguns dos mais relevantes artistas para Paris: primeiro Amadeo de Souza-Cardoso, situação interrompida pela Grande Guerra e sua morte prematura; posteriormente o caso maior e definitivo de Maria Helena Vieira da Silva, a quem Salazar viria a retira a própria nacionalidade. As dinâmicas das vanguardas sobre o incipiente contexto moderno permitiram construir um conjunto significativo de experiências, quer no início do século, quer na transição da década de 40 para 50s, com a terceira geração modernista. Também pela primeira vez se apresentam os desenvolvimentos da prática fotográfica desenvolvidos neste período. Quase sempre marginalizados pela História da Arte surgem agora como uma participação plena e em diálogo com as outras práticas artísticas. É para esta época e reconfiguração da modernidade então operada, que esta exposição presta especial atenção. Foram de facto os Abstraccionistas, os Neo-realistas e os Surrealistas que produziram essa modernidade prometida por Amadeo de Souza-Cardoso, passada como testemunho por Almada Negreiros e que estes artistas deram corpo e conflitualidade. No seu limite Joaquim Rodrigo e Paula Rego abriram outros caminhos para novas ficções. Amadeo de Souza-Cardoso e os Primeiros Modernismos: O Modernismo surgiu em Portugal na sequência de Revolução da República, em 1910, das estadas dos artistas em Perus e das cescenttes trocas de informação e contactos com as vanguardas emergentes, que esta situação proporcionou. Também a geração lirerária, reunida em torno de Fernando Pessoa e das revistas Ordeu ou Portugal Futurista, deu ao moviemnto modernista uma importantíssima amplitude e profundidade. Amdeu de Souza-Cardoso, fixado em Paris, foi o único artista que participio em algumas das mais revelantes exposições da vanguarda internacional. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial ficaria exilado no seu próprio país, ainda que acompanhado durane o ano de 1915 pelos Delaunay. Aqui desenvolveu solidariamente as experiências mais radicais sobre as novas concepções de espaço pictórico, até morrer prematuramente, em 1918. Depois do conflito, uma segunda geração estagiou em Paris, sem participações significativas em exposições ou novas experiências e trazendo para Portugal uma modernidade conservadora, distanciada das vanguardas. Apenas Mário Eloy conheceu outras referências, em Berlim. O contexto artístico local mantinha-se "um mal-entendido sem remédio", nas palavras de Almada Negreiros. É apenas nos meados da década de 1930 que ocorre uma assimilação superficial da modernidade, então dedinida por António Ferro, o seu promotor oficial tolerado pelo fascismo, nos limites de um "indispensável equilíbrio", sem "incompatibilidade entre um regimo de Autoridade consciente e a arte moderna". Nesse anos 30, Almada Negreiros, regressado de Madrid onde fora compreendido e estimado, desenvolve um retorno ao classicismo de matriz picassiana, dando início a uma pesqueisa sobre o cânone ocidetal, que ocupará o seu trabalho futuro. Simultaneamente ocorrem outras tentativas dispersas de reformulação do modernismo com nocas propostas intedradas no quadro das vanguardas internacionais. António Pedro, em Paris, retoma a exploração da relação entre palavra e espaço, iniciada com a geração do Orfeu, para seguidamente realizar as primeiras pinturas surrealistas, juntamente con António Dacosta. M. H. Vieria da Silva dá inicio ás suas explorações espaciais a partir de arquitecturas imaginadas ou transfiguradas. Abstracção Geométrica: Este anos, de 1945 até ao final da década seguinte, assistem á entrada em cena de uma geração jovem preocupada com um envolviemnto profundo nas diferentes vias da modernidade e das suas manifestações de vanguarda. Tratou-se assim de constituir uma mais complexa elaboração dos aspectos com que as práticas artísticas se articulavam. No pós-guerra europeu, a prática da abstração construtivista reconstitui-se como uma vanguarda no Salon des Réalités Nouvelles de Paris e que encontrou desenvolvimentos significativos no contexto portugês. Foram assim os pintores abstractos geométricos que resgataram uma prática vanguardista interrompida durante três décadas com a morte prematura de Amadeo de Souza-Cardoso. Para artistas como Fernando Lanhas, Nadir Afonso ou Joaquim Rodrigo o dado primeiro da pintura é a especificidade formal dos seus elementos estruturais. As suas pesquisas centram-se num conhecimento essencialista da pintura e da busca de uma harmonização dos seus elementos constitutivos. Fernando Lanhas construiu diferentes cruzamentos não-ortogonais de linhas, que delimitam áreas poligonais irregulares, conferindo uma tensão e equilíbrio de formas que não excluem uma incerteza inerente á busca do conhecimento da pintura. A partir de 1949 implicou a pintura em elementos naturais como seixos cuja forma motiva a inscrição dos seus elementos geométricos. Nadir Afonso, trabalhando como arquitecto, em Paris, com Le Corbusier, partiu de formas geométricas da natureza e das suas intensidades cromáticas para operar sobre as suas relações de proporção e produzir formas complementares a partir das primeiras. Designou essa unidade formal geométrica de harmonia. As suas pinturas deste período apresentam-se como bandas onde se inscrevem ritmicamente os elementos geométricos, que se prolongam para lá dos limites da tela. Joaquim Rodrigo desenvolveu progressivamente uma procura da unidade entre a forma e o espaço matricial da pintura onde aquela se inscreve, para chegar a uma teoria da cor que lhe permitiu a unidade plena de todos os elementos pictóricos. O seu sistema de composição puramente matemática ultrapassou o tradicional modelo sensitico e aproximou-o de problemáticas minimalistas.
Pintura ( Desdobramento-Intersecção). 1914
Óleo sobre cartão. 33v23 cm
Amadeo de Souza-Cardoso
Amadeo de Souza-Cardoso
Amadeo de Souza-Cardoso
Amadeo de Souza-Cardoso
Eduardo Viana (1881-1967),
Eduardo Viana, Revolta das Bonecas (1916) há uma influência nítida do casal Delaunay; uma figuraçãomuito diluída de bonecos de reminiscência folclórica é integrada em movimentos circulares, desconstruções espaciais e densas sobreposições de fragmentps coloridos que tornam a composição um exemplo de pura dinâmica, raro na sua obra.
Dominguez Alvarez ( 1906-1942), natural do Porto onde nasceu em 1906, ao longo da sua vida participou em poucas exposições colectivas, destacando-se a do grupo "Mais Além" (1929). Na arquitectura linear da sua obra, qualquer alteração da geometria balança o mundo, tornando-se consequentemente agente de perturbação. O seu trabalho pode dividir-se em três fases. Uma primeira, iniciada em 1927, denominada "vermelha", revela uma paleta de cores alegres, em diálodo com negros, cinza e brancos, que se modelam para a criação depaisagens urbanas, onde os telhados rubros coroam cenários de luz singelos e toscos. Em 1930, uma incursão pelo abstracionismo permite-lhe ainda o uso dessa paleta aberta, quase festiva, sobretudo quando entra no campo da aguarela, em que também experimenta uma gramática cubista. Porém, logo desde o ano e até 1937, opera-se uma importante alteração, começando a fase dos quadros fantásticos, de inspiração espanhola, num paisagismo dramático e intenso, em que perpassam retratos urbanos, campestres ou rostos. Loucos, cemitérios, igrejas, montes estabelecem os contornos de personagens de um universo inquietante e misterioso. A paleta torna-se opaca, abraçando uma luz de oiro velho e negro, que pressagia a morte, vivendo a composição de linhas tensas, desfiadas, alongadas, que mesmo quando a estruturam ao eixo, verticalmente, a fazerm abalar no traçado de uma oblíqua ( de que é claro exemplo a tela D.Quixote), instaurando a dúvida e a conturbação. A paleta, povoada de sobras, mesmo quando aparentemente feliz, entra em agonia no apertado diálogo com a composição, qm que a instabilidade do cenário, operada pela inquietação das linhas que nos fazem tremer o olhar, nos mostra o quando é frágil a racionalidade e a agónica a vida. Dórdio Gomes foi seu professor, em que muitos do seus quadros, aquando da sua morte prematura aos 36 anos por tuberculose, ficaram no seu atelier de trabalho, não estavam assinados pelo artista. A Escola de Belas Artes decidiu então que essas obras fossem carimbadas no verso e assinadas pelos mestres Dórdio Gomes e Joaquim Lopes, como forma de autentificação.
Mário Eloy - Menino e varina, 1928, Óleo sobre tela, 49 x 43 cm
Mário Eloy - O Poeta e o Anjo, 1938, óleo sobre tela, 80x100
Carlos Botelho - Recanto de Lisboa, 1936, 104,5 x 100 cm
Fernando Lanhas ( Porto, 16 de Setembro de 1923), é um pintor e arquitecto português. Estudou arquitectura na Faculdade de Belas-Artes na Universidade do Porto, mas ficou conhecido como sendo um pintor abstracto. Arquitecto-pintor, poeta, astrónomo, colecionador de seixos, de que aprecia as texturas pardas. É um dos pioneiros da abstracção geométrica em Portugal. Toda a sua obra é uma concepção original da pintura, como cálculo racional, reflexão ascética, equilíbrio traduzido na ordem geométrica. Pintor neofigurativo, de tendência geometrizante.
Nadir Afonso, concluiu arquitectura na ESBAP e estudou Pintura na École des Beux Arts, em Paris. A sua total propensão para a pintura em detrimento da arquitectura impõs-se desde cedo, assim como a ânsia de procura das essências e do absoluto. A passagem pelos ateliês de Le Corbusier (1948-1951 e de Oscar Niemeyer não foi sufeciente para o demover da convicção de que "a arquitectura não é arte [...] é uma ciência, uma elaboração de equipas" e um "labirinto de contingências" no qual a arte não pode afirmar-se. Fez parte dos Independentes ( Resende, Lanhas, Pomar), no Porto, em todas as exposições que realizaram até 1946. Em 1943, redige os seus primeiros estudos, altura em que os fenómenos da óptica e da geometria já lhe interessavam muito. Nos anos 70 e 80, continua a desenvolver abundantes estudos de cidades: linhas imbricadas, ondulações que dinamizam a geometria dos edifícios, espirais, pontos de fuga, malhas, alguma profundidade de campo. No final dos anos 80, são frequentes trabalhos com a figura humana definida por traços análogos aos que desenham os fundos e relações compositivas de gesto e geometria. Para Nadir Afonso, o fosso entre as faculdades do raciocínio e as da percepção é enorme, mas é nas segundas que reside a capacidade inconsciente e inata de entendimento das leis naturais. è necessário ir contra a ilusão do saber racional e científico, mesmo o dos geómetras, contra a ilusão da imanência dos objectos e contra as tendências mística e psicologicizante de interpretação. O primado da relação entre as coisas e, entre elas e o sujeito, é fundamental na crítica que fáz ao materialismo e do idealismo, propondo a alternativa individual, baseada na exactidão "moral" de uma lógica matemática. Segundo Nadir, a "estética não poderá constituir-se senão através de uma fenomenologia da geometria perceptiva".